terça-feira, 14 de julho de 2015

Análise:

Clausewitz, o Governo Dilma e a política defensiva


"A política com um propósito ofensivo cria o ato de destruição. A política com um propósito defensivo espera por ele." (Clausewitz, Da guerra, p.104.)




Primeiro uma afirmação: para o autor que vos escreve a atividade política é uma forma civilizada de se fazer a guerra. Ela guarda várias semelhanças e termos em relação àquela. É a desembocadura por onde escoou a luta que vai desde os agrupamentos primitivos, tribos, facções e por fim partidos. Assim, que fique claro, que todos os termos por mim citados ou usados para explicar essa correlação ou usá-la para encaminhar as estratégias de ações políticas, são entendidos a partir da definição acima. 

É óbvio que muitos dos termos correlatos à guerra propriamente dita, são termos interditados no atual estágio de debate político. E assim tem que o ser pois, se não o fosse, não seria a política uma atividade de luta "civilizada". Embora seja provável que os nossos inimigos usem nossas citações como arma política de combate, somente os tolos acreditariam, ou podem ser levados a acreditar (e esse será no futuro um outro tópico de debate), que "derramamento de sangue" seja uma realidade absoluta e frequente na atividade política. Embora ele ocorra de tempos em tempos nessa atividade não é de fato esse termo levado ao pé da letra na ação política, a não ser, óbvio, que a Política se esgote e a atividade de luta entre as diversas facções que compõe um agrupamento social determinado retrocedam ao ponto do embate propriamente físico.

Assim, pensando nesses termos, podemos ver que a estratégia atual do Governo Dlima, a defesa pura e simples, pode conduzir todo um campo progressista no Brasil a um estágio de desarticulação e retrocesso que demorará bons anos para ser reconstruido. Embora a velocidade da mudança de conjuntura no capitalismo mundial possa acelerar a retomada das demandas progressistas, é essencial manter as posições conquistadas até agora no Brasil e na América Latina. Nesse sentido a responsabilidade desse Governo não é somente com ele. É uma responsabilidade para com todo um processo que se iniciou nos anos 80 e firmou frente durante a década passada. Até para o analista político mais pueril isso é uma obviedade. É também óbvio que os nossos inimigos se rearticularam ao longo desses 30 anos, o que no fundo faz parte da interação entre os oponentes. O que não faz sentido nenhum é o atual estágio de estagnação dos combates entre os frontes. Se a estratégia do atual Governo é a pura e simples defesa, esse sem dúvida estará condenado, como bem mostrou Clausewitz:

"uma política de espera nunca deve tornar-se uma resistência passiva, que qualquer ação que a envolva deve buscar também a destruição das forças oponentes, como de qualquer outro objetivo. Seria um erro básico imaginar que um intuito defensivo indique uma preferência por uma decisão sem derramamento de sangue em vez da destruição do inimigo. Um esforço primordialmente defensivo pode evidentemente levar a esta escolha, mas sempre correndo o risco de que não seja o caminho certo: isto dependerá de dois fatores que não são determinados por nós, mas sim pelo oponente. Evitar o derramamento de sangue não deve ser portanto considerado um ato de política se a nossa maior preocupação for preservar as nossas forças. Pelo contrário, se esta política não for adequada à situação específica, levará as nossas forças ao desastre. Um grande número de Generais fracassaram devido a esta premissa equivocada."
 

 
 Carlos Cesar Felix






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